quarta-feira, 18 de março de 2009


HISTÓRIA DA RIQUEZA DO HOMEM
PARTE I
Compilado do Livro de Leo Ruberman
Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores


Na Idade Média, a sociedade feudal consistia de três classes: sacerdotes, guerreiros e trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as outras classes, eclesiástica e militar.
O trabalho era na terra, cultivando o grão ou guardando rebanho para utilizar a lã no vestuário.
A maioria das terras agrícolas da Europa ocidental e central estava dividida em áreas conhecidas como “feudos”. Um feudo consistia apenas de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam.
Cada propriedade feudal tinha um senhor. Dizia-se nesse período que não havia “senhor sem terra nem terra sem um senhor”.
O camponês vivia numa choça do tipo mais miserável, trabalhando longa e arduamente em “faixas de terra arrendadas” para seu próprio sustento, e dois ou três dias por semana, tinha que trabalhar “a terra do senhor”, sem pagamento. E o trabalho para o senhor feudal vinha sempre em primeiro lugar.
O camponês não era escravo no sentido atribuído à palavra, era chamado de “servo” o que não era diferente (palavra de origem latina “servus” que significa “escravo”). O servo (e sua família) vendido junto com a propriedade quando era o caso.
Havia vários tipos de servidão, havia os “servos de domínio”, os que viviam diretamente ligados à casa do senhor, os camponeses muito pobres, chamados de “fronteiriços” que mantinham pequenos arrendamentos de um hectare e os “aldeões” que só possuíam uma cabana que trabalham em troca de comida.

O servo trabalhava a terra e o senhor manejava o servo.

A Igreja foi a maior proprietária de terras no período feudal. Homens preocupados com a espécie de vida que tinham levado e, desejosos de passar para o lado direito de Deus antes de morrer, doavam terras à Igreja; outras pessoas, achando que a Igreja realizava grande obra de assistência aos doentes e aos pobres, desejando ajudá-la nessa tarefa, davam-lhe terras; alguns nobres e reis criaram o hábito de, sempre que venciam uma guerra e se apoderavam das terras do inimigo, doar parte delas à Igreja; por esses e por outros meios a Igreja aumentava suas terras, até que se tornou proprietária de entre um terço e metade de todas as terras da Europa ocidental.

Bispos e abades se situaram na estrutura feudal da mesma forma que condes e duques. E exatamente como recebia a terra de um senhor, também a Igreja agia, ela própria, como senhor.
Nos primórdios do feudalismo, a Igreja foi um elemento dinâmico e progressista. Preservou muito da cultura do Império Romano. Incentivou o ensino e fundou escolas. Administravam melhor suas propriedades e aproveitaram muito mais suas terras que a nobreza leiga.

Mas, enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a Igreja adquiria mais e mais terras. Uma das razões que proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários. A Igreja também aumentou seus domínios através do “dízimo”. Taxa de 10% sobre a renda de todos os fiéis. “O dízimo constituía um imposto territorial, um imposto de renda e um, imposto de transmissão muito mais oneroso do que qualquer taxa conhecida nos tempos modernos... caso não cumprisse o repasse do dízimo era condenado ao inferno”.
A Igreja tinha seus cofres cheios de ouro e prata, que guardava em suas caixas-fortes ou utilizava para comprar enfeites para os altares. Possuía grande fortuna, mas era capital estático. O dinheiro da Igreja não podia ser usado para multiplicar sua riqueza, ainda nesse período.
Havia vários obstáculos que retardavam a marcha do comércio.
Porém chegou o dia em que o comércio cresceu tanto que afetou profundamente toda a vida na Idade Média. O século XI viu este crescimento a passos largos e no século XII, a Europa Ocidental transformar-se.
As cruzadas tomaram novo ímpeto. Milhares de europeus atravessavam o continente por terra e mar para arrebatar a TERRA PROMETIDA aos mulçumanos. Regressavam de suas jornadas ao Ocidente trazendo o gosto pelas comidas e roupas requintadas. Criou-se novo mercado e aumentaram-se as expedições.
Na verdade essas cruzadas constituíam guerras de pilhagem e a Igreja envolveu essas expedições de saque em manto de respeitabilidade, fazendo-as aparecer como se fossem guerras com o propósito de difundir o Evangelho ou exterminar os pagãos, ou ainda defender a Terra Santa.

Desde os primeiros tempos realizavam-se peregrinações à Terra Santa (houve 34 do século VIII ao X e 117 no século XI). Era sincero o desejo de resgatar a Terra Santa, e apoiada por muitos que nada ganhavam com isso. Mas a verdadeira força do movimento religioso e a energia com que foi orientado fundamentavam-se grandemente nas vantagens que poderiam ser conquistadas por certos grupos.
Primeiro, havia a Igreja, animada por motivo religioso honesto, mas também com o bom senso de reconhecer que se tratava de uma época de luta e dela se apoderou a idéia de transportar o furor violento dos guerreiros a outros países que se poderiam converter ao cristianismo, caso a vitória lhes sorrisse. O Papa Urbano II dirigiu grande exortação de fiéis a se aventurarem numa Cruzada.
Segundo, havia a Igreja e o Império Bizantino, com sua capital em Constantinopla, muito próximo ao centro do poder muçulmano na Ásia. Enquanto a Igreja Romana via nas Cruzadas a oportunidade de estender seu poderio, a Igreja Bizantina via nelas o meio de restringir o avanço muçulmano a seu próprio território.
Terceiro, havia os nobres e cavaleiros que desejavam os saques, ou estavam endividados, e os filhos mais novos, com pequena ou nenhuma herança – todos julgavam ver nas Cruzadas uma oportunidade para adquirir terras e fortuna.
Quarto, havia as cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa. Veneza foi sempre uma cidade comercial. Veneza apresentava localização ideal para a época, pois o bom comércio era o do Oriente, tendo o Mediterrâneo como saída. Veneza continuava ligada à Constantinopla depois que a Europa Ocidental se dispersou, o que lhe dava vantagem e com isso mantinham a rota interna. Nessas cidades viviam os odiados mulçumanos, os inimigos de Cristo, o que não fazia diferença para os venezianos. As cidades italianas encaravam as Cruzadas como oportunidade para obter vantagens comerciais. Assim, a Terceira Cruzada não teve por objetivo a reconquista da Terra Santa. As cruzadas atravessaram Jerusalém em demanda das cidades comerciais ao longo da costa.
A Quarta Cruzada começou em 1201, em Veneza e tendo Villehardouin como embaixador. Embora os venezianos estivessem desejosos de ajudar a marcha dessa Cruzada, “por amor de Deus”, não permitiam que tão grande amor os cegasse quanto à melhor parte da pilhagem. Eram grandes homens de negócios. Do ponto de vista religioso, pouco duraram os resultados das Cruzadas, já que os muçulmanos, oportunamente, retomaram o reino de Jerusalém. Por outro lado, para o comércio os resultados foram tremendamente importantes.
Surgiram grandes feiras em cidades importantes, Lagny, Provis, Bar-sur-Aube e Troyes, para comercializar os produtos.
No mar do Norte e no Báltico, os navios corriam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros e peliças.
Os mercados locais semanais dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras dos séculos XII ao XV eram diferenciados. Os mercados locais negociavam produtos locais, em suas maiorias agrícolas, enquanto as feiras eram intensas e negociavam mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul. As feiras eram tão grandes que os guardas normais da cidade não lhes bastavam; havia polícia própria da feira, guardas especiais e tribunais, porque ali efetuavam grandes transações financeiras. Negociavam troca de dinheiros (moedas diferentes), empréstimos, pagamento de dívidas, letras de crédito e câmbio. Eram os banqueiros em ação com seus clientes. Entre seus clientes contavam-se papas e imperadores, reis e príncipes, repúblicas e cidades.
Acontece assim a expansão nas transações financeiras e conseqüentemente o crescimento econômico e populacional.

Com a expansão rápida na Idade Média a Itália e a Holanda oferecem atrativos por causa dos rios e mares e as cidades vão se formando onde há encontros de estradas ou embocaduras de rios. Construíam igrejas e uma zona fortificada chamada “burgo” que assegurasse proteção em caso de ataques. Mercadores se reuniam nesses locais e criou-se assim o “fauburg” ou “burgo extramural”. O crescimento foi grande e os muros de proteção foram derrubados e as cidades a se expandirem. A população queria liberdade. A vida na cidade era muito diferente da vida no feudo, novos padrões haviam sido estabelecidos.

Nos primórdios do feudalismo, a terra, constituía a medida de riqueza do homem. Com a expansão do comércio, surge um novo tipo de riqueza – a riqueza em dinheiro.


“A SEMENTE QUE SEMEIAS, OUTRO COLHE”


Se a United States Steel Company quiser comprar outra empresa de aço que lhe estiver fazendo concorrência, provavelmente tomará emprestado, o dinheiro. Conseguirá isso emitindo ações que são simplesmente promessas de devolver, com juros, qualquer soma de dinheiro que o comprador de ações emprestou.
Houve época em que se considerava crime grave cobrar juros pelo uso do dinheiro. No princípio da Idade Média o empréstimo de dinheiro a juros era proibido por uma Potência, chamada Igreja, que pregava que se tratava de PECADO DA USURA. A Inglaterra aprovou essa lei com punição de prisão e a Igreja, pregava que o lucro do bolso representava a ruína da alma, porque estaria prejudicando alguém. Santo Tomás de Aquino, pensador religioso da Idade Média, condenou a “ambição do ganho”. A Bíblia era clara quanto a isso: “é mais fácil um camelo passar apelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”.

A Igreja dizia que era ERRADO cobrar juros. Dizia, mas NÃO FAZIA. Os bispos e reis que faziam as leis eram os primeiros a violá-las. Os judeus, que geralmente concediam pequenos empréstimos a juros enormes porque corriam grande risco, eram odiados e perseguidos, desprezados em toda parte como usurários.
Os banqueiros italianos emprestavam dinheiro em grande escala, fazendo negócios enormes – e freqüentemente, quando seus juros não eram pagos, o PRÓPRIO PAPA ia cobrá-los, ameaçando com castigos espirituais. Assim mesmo continuava a gritar contra os usurários.
Quando o comércio tomou força, não havia mais como impedir as negociações, surgem então justificativas centímetro a centímetro novas leis que diziam: “A usura é pecado – mas sob certas circunstâncias...” ou então: “Embora seja pecado exercer a usura, não obstante em casos especiais...”

Crenças, leis, formas de vida em conjunto, relações pessoais, - tudo se modificou quando a sociedade ingressou nessa nova fase de desenvolvimento.

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