sexta-feira, 10 de abril de 2009

HISTÓRIA DA RIQUEZA DO HOMEM III


HISTÓRIA DA RIQUEZA DO HOMEM III
Compilado do Livro História da Riqueza do Homem
de Leo Huberman
Em 1346 os estatutos das corporações artesanais ditavam:
“... se qualquer pessoa do ofício de curtir couro branco sofrer pobreza pela idade, ou porque não possa trabalhar ..... terá toda semana 7 dinheiros para seu sustento, se for homem de boa reputação”.

Nenhum estrangeiro trabalhará no dito ofício... se não for aprendiz, ou homem admitido à cidadania do dito lugar.”
“...”
As corporações se preocupavam com o bem estar de seus membros. Era uma espécie de irmandade. Porém, é claro que os membros se uniam para reter em suas mãos o controle direto da indústria. Lutaram para manter o monopólio dos respectivos artesanatos, e não permitiam aos estrangeiros que se imiscuíssem em seu mercado.

Hoje em dia, o inventor de um novo processo, ou de um processo melhor, patenteia sua invenção, e ninguém mais poderá usá-la. Antes não existiam leis e as corporações se preocupavam naturalmente em ocultar seus segredos artesanais. Havia uma lei veneziana, de 1454 que indica um método: “se um trabalhador levar para outro país qualquer arte ou ofício em detrimento da República receberá ordem de regressar: se desobedecer, seus parentes mais próximos serão presos, a fim de que a solidariedade familiar o convença a regressar; se persistir na desobediência, serão tomadas medidas secretas para matá-lo, onde quer que esteja”.
Supervisores das corporações faziam viagens regulares de inspeção, nas quais examinavam os pesos e medidas usados pelos membros, os tipos de matérias-primas e o caráter do produto acabado, e os selavam. O preço não podia exceder ao valor da coisa, ou o contrário, era exigida justiça pela igualdade. Conseqüentemente, vender mais caro ou comprar mais barato uma coisa era considerado em si injusto e ilegal.

Mais uma vez a Igreja, com a aprovação de bons cristãos, prega sermão sobre o Sexto Mandamento, escolhendo como tema as palavras do Livro de Provérbios: “Não me sejam dadas riquezas nem pobrezas, mas o bastante para o meu sustento”

A noção do justo preço se enquadrava na economia do mercado pequeno, local e estável. Mas não se enquadrava na economia do mercado grande, exterior e instável. As modificações das condições econômicas provocaram modificação das idéias econômicas. Constataram que as mercadorias não tinham valor fixo, independente das condições. O justo preço foi, portanto, derrubado e substituído pelo preço de mercado.
A igualdade entre mestres tornou-se coisa do passado.
Outra causa do colapso do sistema de corporações foi o aumento da distância entre mestres e jornaleiros. O ciclo que até então havia sido aprendiz-jornaleiro-mestre, passou a ser apenas aprendiz-jornaleiro. Passar de empregado a patrão tornou-se cada vez mais difícil.

As associações, tal como os sindicatos de hoje, procuravam conseguir maiores salários para seus membros e, como os sindicatos, enfrentavam a resistência dos patrões. Queixavam-se às autoridades municipais, que declaravam ilegais as associações de trabalhadores ou jornaleiros.

Como era natural, a disputa sobre salários mais altos foi particularmente intensa no período imediatamente posterior à Peste Negra. Com a maior procura por trabalho, a tendência foi de grande elevação de salários.

O latim era a língua universal dos eruditos. As crianças não estudavam inglês, alemão, holandês ou italiano. Estudavam latim. Falava-se inglês, alemão, etc, mas essas línguas só mais tarde passaram a ser escrita. O monge espanhol com sua Bíblia na Espanha lia as mesmas palavras latinas que eram lidas pelos monges de um mosteiro inglês.

A religião também era universal. Quem se considerasse cristão nascia na Igreja Católica. Não havia outra. E, espontaneamente ou a contragosto, era necessário pagar impostos a essa Igreja e sujeitar-se às suas regras e regulamentos. Não havia limites estatais à religião.

Mas em fins da Idade Média, no decorrer do século XV, tudo isso se modificou. Surgiram nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu aparecimento, e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a considerar-se cidadãos e passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou ao senhor feudal, mas ao Rei, que é o monarca de toda uma nação.

A ascensão da classe média é um dos fatos importantes desse período que vai do século X ao século XV. As antigas instituições que haviam servido a uma finalidade na velha ordem, entraram em decadência e novas instituições surgiram, tomando seu lugar. É a lei da História.

O mais rico é quem mais se preocupa com o número de guardas que há em seu quarteirão.
E a Igreja era tremendamente rica. Calcula-se que possuía entre um terço e metade de toda a terra – e, não obstante, recusava-se a pagar impostos ao governo nacional.
A Igreja julgava certos casos em tribunais religiosos, e muitas vezes a decisão da Igreja era contrária à do rei. Tanto que muitas vezes era difícil saber a quem cabia o dinheiro da multa ou suborno.
Os muitos abusos da Igreja não podiam passar despercebidos. A diferença entre seus ensinamentos e seus atos era bastante grande, e até os mais broncos podiam percebê-la. Enéias Sílvio, Papa Pio II escreveu: “Nada se consegue em Roma sem dinheiro”. Pierre Berchoire, que viveu na época de Chaucer, escreveu também: “Não é com os pobres que o dinheiro da Igreja é gasto, mas com os sobrinhos favoritos e os parentes dos padres”.
Os muitos escândalos e abusos da Igreja eram públicos e notórios muitos séculos antes de Martinho Lutero pregasse as suas “Noventa e Cinco Teses” à porta da Igreja, em Winttenberg, em 1517. Houve reformadores religiosos antes da Reforma Protestante.
A separação da Igreja Católica não aconteceu antes de Lutero, Calvino e Knox porque seus antecessores cometeram o erro de tentar reformar mais do que a religião. Wycliffe e Hus não protestavam apenas contra Roma, eles inspiravam um movimento comunista, ameaçando o poder e os privilégios da nobreza.
Já Lutero e os outros reformadores que o seguiram não comprometeram o apoio da classe dominante pregando doutrinas perigosas de igualdade. Lutero não era um radical.
Uma das razões do êxito de Lutero foi não cometer o engano de tentar derrubar os privilegiados. Outra razão importante para o advento da Reforma naquele preciso momento está no fato de que Lutero, Calvino e Knox apelavam para o espírito nacionalista de seus adeptos, num período em que esse sentimento crescia.

Antes, o direito da Igreja fora supremo; agora, o velho direito romano, mais adequado à necessidade de sociedade comercial, fora ressucitado; antes, a Igreja era a única que dispunha de homens cultos, capazes de conduzir os negócios do Estado; agora, o soberano podia confiar numa nova classe de pessoas treinadas no movimento comercial e consciente das necessidades do comércio e da indústria do país.
Esse novo grupo, a nascente classe média, sentia que havia um obstáculo no caminho de seu desenvolvimento: o ultrapassado sistema feudal.
A Classe média compreendia que seu progresso estava bloqueado pela Igreja Católica, que era a fortaleza de tal sistema. Então a saída era atacar a Igreja. E foi o que fez.
A luta tomou um disfarce religioso contra o feudalismo.
Foi denominada de Reforma Protestante.

continua ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário